quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Laura a leiteira

Já aqui falei de pessoas marcantes na minha infância, hoje de manhã cedinho cedinho, ao despedir-me do Nuno antes de irmos trabalhar lembrei-me de mais uma personagem interessante.

Laura era a leiteira que, todos os dias, levava o leite fresco embalado naquelas embalagens moles que, sem o devido cuidado, entornavam metade do leite assim que se desse um golpe com a tesoura num dos seus cantos.

Tempos em que não havia abertura fácil e o leite tinha de ser fervido, aventura esta que para mães com filhos mais irrequietos, que a distraíssem de tal tarefa, fazia com que o simples arranjar uma caneca de leite acabasse com uma limpeza completa ao fogão.

Voltando à Laura, esta era uma mulher com ar rude, até um pouco masculino cujo rosto tenho uma vaga ideia. Eu era pequena, e lembro-me de ficar no topo da escada junto à minha porta, que ficava no primeiro andar, e de a ver no hall de entrada da escada do prédio. A minha mãe descia para ir buscar o leite e nunca me lembro de a ver mais perto que isto.

Lembro-me de o meu pai trocar alguns ditos brincalhões com ela, coisa ainda comum nele hoje em dia com quem se dá a essas coisas.

Foi no meio deste escárnio diário, que nunca teve o objectivo de ofender mas apenas brincar, que o meu pai me ensinou o dito que anos mais tarde um grupo humorista português veio a dar fama. Era ver-me pequena, assim que a Laura tocava a campainha, a correr para a porta e ficar pendurada no gradeamento da escada à espreita para baixo e gritar:
"Vai trabalhar!"

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