quinta-feira, 22 de setembro de 2011

fisiológico vs cultural

Tenho saudades de alguém que me é querido. Mas, o certo, é que de há uns tempos para cá sempre que está comigo, diz coisas que me magoam. Por vezes nem é preciso estar junto, pois ouço e sinto o que diz mesmo sem a minha presença.
Isto faz-me pensar de quem tenho eu saudades e de quê?

De alguém que tudo o que dá é na esperança de contrapartida, mais que não seja submissão ou obediência, ao ponto de querer que quem é ajudado siga o projecto de vida que quem ajuda desenhou e não o seu próprio projecto?
De alguém que ao não obter a esperada contrapartida, acena com a ajuda que prestou como que uma dívida e apregoa aos sete ventos que ajudou e que quem foi ajudado é ingrato. Ingrato porque quis decidir sobre a própria vida? É isto ser ingrato?

Quem ajuda por amor genuíno não espera contrapartidas dessas.

A contrapartida que devemos esperar pela nossa dedicação aos nossos filhos deve ser que sejam felizes, mesmo que não entendamos a sua felicidade. 

Mas há pais que consideram que eles é que sabem e definem o que é ser feliz para um filho. E quando o que faz estes felizes não é o que os progenitores planearam, rejeitam.

Nestes casos só me vem à cabeça uma frase que um psicólogo, que foi meu formador, disse uma vez: Um filho amar uma mãe é fisiológico mas uma mãe amar um filho é cultural.

Assim se entende o porquê da saudade...

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Tesouros da Infância

Há coisas que são sempre nossas, outras que nunca foram.
As memórias é o que temos de mais rico do passado.
Da minha infância pouco ou nada tenho hoje em dia, por vicissitudes da vida, as coisas materiais desse tempo foram-se perdendo ou sendo aprisionadas por terceiros.

Ontem lembrei-me da minha casa, do meu quarto, das minhas coisas...

O meu quarto cor-de-rosa, com a mobília única feita pelo avô da minha madrinha para ela, a qual me foi oferecida aquando a renovação do seu quarto.

Lembrei-me das coisas mais banais que, mesmo sem que eu desse por elas, faziam parte do meu dia-a-dia, do meu refugio, do único espaço que era realmente meu: o meu quarto.

Do meu tempo de infância pouco ou nada tenho hoje em dia, pouco ou nada tenho de objectos, de coisas...mas as memórias são minhas e essas ninguém me pode tirar ou privar.

Lembro-me dos dias de brincadeira infinitos; lembro-me da minha mãe junto à janela da sala à espera do meu pai que chegava do trabalho, algumas vezes acompanhada de um livro de palavras cruzadas; lembro-me de ver o meu pai a aparecer ao fundo da rua, com a sua pasta preta na mão, com um passo acelerado na pressa de chegar a casa; lembro-me dos vizinhos; lembro-me da escada, que era a mais luminosa que conhecia; lembro-me de passar horas em frente ao espelho do quarto dos meus pais; lembro-me....

Este tesouro da minha infância é meu e ninguém me o tira.
Mesmo que pouco ou nada tenha dos objectos que faziam parte desse tempo. Mesmo que as pessoas que se afastaram de mim, por não concordarem/aceitarem as minhas opções de vida, me vão privando e se privando de construir mais boas  memórias em conjunto, nunca poderão sair da minha infância.

Essas memórias ninguém me tira, essas são minhas, as memórias do tempo em que era "a filha" a não só e apenas "a mãe dos netos".