Há um ano a minha vida mudou...
Sem me aperceber disso, ao princípio, mas de uma forma avassaladora...
A esta hora, ligou-me a minha prima, que nunca me tinha ligado... pensei logo que algo se passava... talvez a minha avó, septuagenária, que tivesse falecido... mas não.
Era de facto um falecimento, mas do meu padrinho, pai da minha prima, filho da minha avó, irmão da minha mãe, alguém com que até nem convivia muito.
Na altura quase nem reagi... fiquei em silêncio, continuei o que estava a fazer...
Agarrei na filha da minha namorada na altura, levei-a até à escola, com uma expressão perfeitamente normal.
Nesse instante, a minha actual companheira (cuja filha também frequentava a mesma escola), na altura ainda apenas uma amiga recente, olhou para mim e percebeu nos meus olhos que não estava bem...
Contei-lhe o que se tinha passado, com a sensação de que o estava a partilhar com alguém que já conhecia há muito. E aí sim, caí em mim... senti algo que nunca tinha sentido... mas sem perceber bem o quê.
Foi o princípio da mudança...
A verdadeira reviravolta aconteceu no funeral... à entrada do cemitério chega mensagem: era ela, a mesma que reconheceu a dor nos meus olhos, que me libertou, que dizia apenas "força amigo".
Senti-me acompanhado como nunca...
Depois de toda a emoção das últimas palavras, ditas sobre um homem que mal conheci por força de percursos diferentes na vida, percebi pela moldura humana que foi alguém que tocou os outros com aquilo que fez na vida...
Daí toda a injustiça que senti ao ver descer aquela "caixa" fria de madeira que, debaixo de chuva, ia sendo coberta de terra, terra que é fonte de vida mas que ali apenas servia para esconder a morte...
Na minha cabeça só ouvia: "é para isto? É para isto que se vive?"
Decidi naquele instante que ia viver a vida em pleno... e foi aí que me apercebi finalmente que estava desacompanhado... faltava-me o equilíbrio... mas pensei: "espera! Senti isso no olhar dela... será? Será ela o meu equilíbrio?"
Daí até perceber que estava certo foi rápido, rápido demais para quem viu de fora, lento demais para quem espera por esse equilíbrio há tantos anos...
Ela... és tu! Tu, Raquel.
Obrigado por me equilibrares. Amo-te
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarQueria comentar, mas não consigo passar para texto o que quero aqui escrever.
ResponderEliminarMas acho que vou conseguir dizer parte em algumas linhas:
Começando por seres um grande amigo, passaste a ser o melhor, e sem deixares de o ser, hoje és "a minha pessoa"
Impressionante é, como um homem tão próximo em laços de sangue e tão longe ao mesmo tempo, foi determinante em viragens importantes da tua vida.
ResponderEliminarMesmo na morte ele não se esqueceu de ti, e quis o destino que fosse o acontecimento triste da sua partida que te despoletasse o teu processo de mudança, a tua renovação da força de viver, e te levasse finalmente ao teu destino.
Não posso deixar de comentar, relantando a origem da minha existência!
ResponderEliminarPor vezes, algumas vezes, a morte, tal como no tarot, significa mudança.
O que te aconteceu a ti, aconteceu, semelhante, ao meu PAI.
O meu PAI encontrou a mulher da vida dele, a minha MÃE, quando a minha avó partiu! Na época a minha MÃE trabalhava na casa de uma familiar do meu PAI. A minha MÂE acompanhou-os naquela dura dor. No que respeita ao meu PAI a minha MÃE nunca mais o deixou, até ao dia em que ele nos deixou a todos!
E, cá estou eu para contar esta história, sou sem duvida fruto de um grande amor que nasceu sob a sombra de uma grande dor e tristesa!
Como banalmente se diz "Nem tudo é mau" e eu penso que há sempre o lado positivo!
Beijos Beijos